Projeto Capeta

 

O "Interlagão"

Foto: revista "4 Rodas", número 39, outubro de 1963

Em outubro de 1963 o projeto Capeta era claro e oficial dentro da Willys, inclusive com o registro do emblema do diabinho com o tridente nas mãos, como relata o Jornal do Brasil em 05 de outubro de 1963 (ver matéria abaixo).

O assim denominado "Interlagão" (assim chamado pela revista "4 Rodas" por ser um Willys Interlagos Coupe "grande")  foi o segundo carro construído dentro do projeto Capeta. Não se sabe claramente se a idéia era fazer o Capeta nos moldes deste carro, ou ele serviu apenas para o desenvolvimento e avaliação da mecânica do Aero-Willys em um carro esportivo, objetivo do Projeto Capeta.

O carro foi desenvolvido logo após o "Boulevard" e a opção do chassis de treliça não terem sido aceitos pela direção da Willys. Ainda com a idéia da utilização da mecânica do Aero-Willys 2600, optou-se por utilizar como base um Interlagos Coupe 1962, que por ser um pouco mais alto que a Berlinetta, tinha melhores condições de acomodar a mecânica na dianteira. A frente do carro foi alongada na parte a frente do para-brisas, de forma a permitir a colocação do motor entre-eixos. Foi aberta na frente do carro uma abertura oval, para resfriar o radiador, dianteiro. A fim de se adequar á largura da suspensão do Aero-Willys, a carroceria foi alargada no centro, no túnel central, de forma a permitir espaço para a parte traseira da caixa de cambio, e a passagem do eixo cardam.

Várias outras pequenas modificações como recorte nos para-lamas traseiros, fechamento da tomada de ar lateral, também foram realizados. O chassis foi feito a partir do chassis longitudinal da Rural-Willys, com as longarinas em "U" (não era possível utilizar chassis do Aero-Willys por este utilizar uma carroceria monobloco), com entre-eixos reduzido para 2,40 metros, e modificado na frente para acomodar a suspensão do Aero-Willys (solução que depois foi adotada na Rural Willys luxo), e o motor e caixa foram um pouco recuados. Suspensão traseira completa do Aero-Willys, e a dianteira com modificação no posicionamento da mola helicoidal. Para facilitar o acesso á parte mecânica, toda a frente do carro abre. Pela pouca altura do capo dianteiro em relação ao motor 2600, o capo possuía um ressalto no centro assim com uma tomada de ar, para dar espaço a tampa de válvulas no cabeçote do motor e, para acomodar os dois carburadores, havia um recorte com parte dos carburadores ficando para fora do capo. Com a retirada do motor traseiro, nesta foi localizado um bom porta-malas, com o fechamento da ventilação traseira do motor, sendo porém mantida a grade, apenas para efeito ornamental.

Não se sabe se o "Interlagão" era um projeto definitivo para ser o Capeta, com vistas a sua fabricação em série como carro esportivo, ou apenas foi construído como um carro para testes da mecânica a ser adotada no Capeta. O carro foi claramente utilizado para testes de rodagem, para o desenvolvimento da mecânica para o Capeta GT, notando-se entre os dois a semelhança nas dimensões da carroceria, posicionamento do motorista e dos componentes mecânicos. O chassis do Capeta teve maior desenvolvimento, inclusive com a não utilização da suspensão dianteira completa do Aero-Willys sendo as molas helicoidais substituídas por uma mola semi-eliptica transversal, como utilizada nos carros DKW. Com a fabricação do "Capeta GT", o carro foi abandonado, e consta que quando do encerramento das atividades da fábrica do Interlagos, onde também funcionava o Departamento de Estilo e fabricação de Protótipos,  o carro ainda existia, coberto de poeira e sem motorização.

Na época de teste do "Interlagão", Rigoberto Soler estava saindo da Willys e indo para a Brasinca, Quem assumiu o Departamento de Estilo foi Roberto Araújo que deu continuidade ao projeto.

Apenas duas reportagens são por nós conhecidas sobre o "Interlagão": A da revista "4 Rodas" número 39, de outubro de 1963,  com seis fotos do carro, obtidas por Ari "Aruanda" Antônio da Rocha (o projetista do carro Aruanda), que possui ainda uma outra foto. A outra reportagem, foi publicada no "Jornal do Brasil", edição de 10 de outubro de 1964, um ano após a publicação da revista "4 Rodas", com uma foto. Acreditamos se tratar de uma foto de arquivo, e com a proximidade do Salão do Automóvel de 1964 e informações sobre a apresentação do Capeta, o jornal tenha utilizado esta foto.

Segundo o Próprio Ari Rocha, ele trabalhou junto a Rigoberto Soler desde 1961 ou 1962 no seu escritório na Av. Santo Amaro, para obter as fotos Ari foi avisado pelo próprio Rigoberto (portanto nesta época ele ainda estava na Willys) de que o carro iria ser testado, e seria dirigido pelo Adão, da oficina São Judas. Adão lhe disse que não poderia impedi-lo de fotografar. Ari foi para a fábrica na Jurubatuba com sua namorada, futura esposa, com a máquina fotográfica do sogro, após o almoço, perto da uma hora da tarde, e fingiu namorar. Quando o carro saiu da fábrica, Adão parou junto da cerca e abriu o capo para que pudesse ser fotografado. Ari conversou com o pessoal da Willys, que concordou com a publicação da matéria sem nenhuma objeção. Ari levou o material para a 4 Rodas onde era amigo do Expedito Marazzi, a matéria foi publicada, e a partir daí ele passou a trabalhar junto a revista.

 

Fotos da revista "4 Rodas" número 39, de outubro de 1963

 

Abaixo uma sétima fotografia de Ari da Rocha , não publicada na matéria da revista "4 Rodas", do carro saindo da portaria da fábrica dos Interlagos.

Foto: Ari da Rocha


"Jornal do Brasil" - RJ,  05 de outubro de 1963, caderno de automóveis, página 2


"Jornal do Brasil" - RJ,  10 de outubro de 1964, caderno de automóveis, página 1



* * *